Por José Augusto de Almeida, advogado e historiador
Quando Ricardo Coutinho era governador, a família Feliciano comeu o pão que o diabo amassou. Prova final disso é que ele abriu mão de disputar uma vaga dada como certa no Senado só porque não confiava em passar o comando da gestão para a vice Lígia Feliciano (PDT).
Um dos filhos indicado para a secretaria de Indústria e Comércio, mais gordinho, passou os quatro anos do segundo mandato de Ricardo sem nunca assumir o cargo. Já o outro, mais magrinho, em gravações reveladas na Operação Calvário, que comprometeram para o resto da vida a imagem do ex-governador, este chegou a afirmar que não deixava nem ele entrar em sua sala porque o magrelo “era um perigo”. Até um processo estranho, e a meu ver injusto, envolveu este filho dos Feliciano sob o beneplácito do Palácio da Redenção na gestão ricardista.
Lígia Feliciano não representava o governo nem em reuniões de freiras carmelitas. Ricardo não deixava e mandava qualquer secretário de ocasião para não dar o gosto do poder à sua vice. Seu gabinete, direito constitucional, chegou a ser demitido parcialmente em um dos já conhecidos acessos de cólera do ditador tabajara.
Mas eis que assume João Azevedo e permanece a mesma vice por contingências geopolíticas. O sol volta a brilhar para o clã campinense. Um dos filhos é nomeado finalmente para o cargo almejado e espaços são recompostos na Borborema. O outro filho, escondido e estigmatizado anteriormente, é reabilitado e circula normalmente nas lides partidárias.
Lígia Feliciano passa a ter um papel importante no Governo, seja acompanhando o governador em tudo quanto é evento e solenidade ou o representando país afora em solenidades. Foi fotografada e filmada em reuniões de governadores e recebendo prêmios em nome de João Azevêdo. Lígia tirou do guarda-roupa os seus modelitos cheirando a canfurina no período de 2014 a 2018.
Mas como diria o escritor Carlos Torres Pastorino: “O pior dos defeitos é a ingratidão, que despreza e apedreja hoje, quem o beneficiou ontem”. O governador João Azevêdo pediu o apoio do PDT dos Feliciano em João Pessoa, onde eles não têm um vereador e sequer sabem onde fica a rua do Rio, para o seu candidato Cícero Lucena. Damião prometeu “estudar o assunto” e dar uma resposta “na segunda-feira”, conforme declarou na imprensa o próprio governador. Só que no domingo à noite o clã Feliciano recebe o adversário de João Azevêdo, o prefeito Luciano Cartaxo em sua bela residência do Bessa e simplesmente anuncia sua filha, que mora em Brasília, para ser a vice em chapa encabeçada pela concunhada de Cartaxo à sua própria sucessão.
A imprensa e os meios políticos ainda estavam boquiabertos com esse gesto de surpreendente traição, quando Dr. Damião aprontou outra do mesmo quilate. Na confusão da convenção do PT, que sofreu intervenção nacional para atender aos caprichos autocráticos de Ricardo Coutinho, o líder do PDT corre para o PCdoB, que tinha indicado a vice de Anísio Maia, e reivindica que eles apoiem o PV da concunhada de Cartaxo e de sua filha vice.
Diante da altivez e, claro, de um partido sério e que tem história como o PCdoB, Damião rompe com todos os limites éticos e até de relações sociais e políticas. Vai até Campina Grande e retira o apoio ao deputado Inácio Falcão, do PCdoB, aprovado dia antes em convenção e registrada ata no TRE, levando esse apoio para Ana Cláudia, esposa do senador Veneziano Vital, argumentando que esse era um pedido do governador João Azevêdo.
Inácio Falcão ficou com sua dignidade e sem o PDT. Já o senador Veneziano, que recebeu o apoio do partido do governador e do próprio, nem pestanejou e aceitou na hora as sobras do PDT de Damião.
“O tempora! O mores!”, diria Cícero, o filósofo.