Tive recentemente a oportunidade de acompanhar uma entrevista que me chamou atenção não só pela lucidez dos argumentos, mas pela coerência e equilíbrio com que foram tratados temas tão sensíveis e atuais. O entrevistado era o renomado advogado Wilson Sales Belchior, cearense de origem, mas paraibano de coração, que concedeu uma conversa reveladora ao jornalista Clilson Júnior, no programa 20 minutos do portal ClickPB.
Wilson, além de amigo, é um dos profissionais mais respeitados do meio jurídico no Nordeste. Sua visão sobre os impactos da Inteligência Artificial (IA) na advocacia foi pontual, realista e, ao mesmo tempo, tranquilizadora. Em suas palavras:
“Apesar das preocupações de muitos, eu não acredito que os advogados vão ser substituídos pela inteligência artificial. Usa-se como ferramenta para ter uma inteligência aumentada, capacidade de produção aumentada.”
Não se trata, portanto, de um cenário apocalíptico, como alguns sugerem. Belchior entende que a IA vem como aliada, potencializando o trabalho humano. No entanto, ele alerta: o mercado ficará mais concorrido. As oportunidades existirão, mas em número menor — e serão absorvidas pelos profissionais mais preparados, mais atualizados e mais éticos.
E aqui ele toca num ponto crucial: a ética no uso da IA.
Wilson relata ter se deparado com uma petição gerada por inteligência artificial que citava precedentes do STJ… que não existiam. Criados do nada. Inventados. “Esse tipo de atitude”, alerta o advogado, “é passível de punição. O profissional pode responder a processo ético-disciplinar por conta disso.” Um lembrete claro de que as ferramentas tecnológicas não dispensam a responsabilidade e o dever de diligência dos operadores do Direito.
Durante a entrevista, Wilson também falou sobre sua visão a respeito da atuação do STF e, em especial, do ministro Alexandre de Moraes. Com a sobriedade de quem compreende os limites institucionais, afirmou:
“Gosto muito dele, gosto dos posicionamentos dele, mas eu não personalizo. Acho que ele exerce sua função com prudência e cautela, garantindo questões caras ao Estado Democrático de Direito.”
Em tempos de polarização e narrativas extremadas, ouvir isso é um alívio. Belchior acredita na Constituição de 1988, vê evolução no Estado Democrático de Direito e defende que o sistema, mesmo com imperfeições, tem funcionado.
A entrevista ainda teve espaço para o pessoal. Wilson revelou, com emoção, um episódio raro com o tio — o cantor Belchior, um dos maiores nomes da música brasileira. Segundo ele, foi durante um evento que ouviu, pela primeira vez, o artista gritar seu nome e vir conversar.
“Eu quase caí das pernas… Nunca tinha recebido tanta atenção de ninguém da minha família paterna”, contou.
Um relato íntimo, singelo, que humaniza ainda mais essa figura pública de fala firme, ideias claras e atuação admirável.
Wilson Belchior é desses profissionais que inspiram. Não pelo exibicionismo, mas pela solidez de pensamento. Fala com propriedade, mas também com humildade. E, acima de tudo, com compromisso com a verdade e com a justiça.
Em tempos em que muitos gritam, Wilson é daqueles que ainda sabem o peso de cada palavra.







