Teresa Raquel Paiva, Advogado e servidora do TJPB, recebeu o diagnóstico de autismo de seu filho logo nos primeiros ano de vida após perceber atipicidades no comportamento da criança. Em entrevista ao portal Acesso Político, ela contou sobre as experiências vividas nos últimos anos e como tem encarado um realidade tão cruel.
Ser Mãe de Autista é ter sensibilidade e emoção; sensível o bastante para perceber, interpretar e entender qualquer mudança no comportamento de seu filho. Emotiva porque sabe como ninguém o valor de um sorriso e de um olhar compartilhado.
Vamos aos fatos, o portal Acesso Político recebeu uma carta de uma Mãe que viu a sua história ser ceifada por pessoas que visam a perversidade, ao invés da hombridade. Em sua carta, a mãe conta a sua Via-Sacra.
VEJA A CARTA:
ECCE HOMO
João Pessoa, 30 de Março de 2022.
Eu, Teresa Oliveira, servidora de carreira do Tribunal de Justiça do Estado da
Paraíba, adentrei as portas da Ouvidoria daquele órgão, tal qual Pilatos entrou
no Credo, ou seja, contrariando a vontade da chefia imediata que fora obrigada
a dobrar-se ao humanismo do Des. José Aurélio da Cruz.
O brilho do meu par de jabuticabas dera lugar a punhados de lágrimas
salgadas. Mesmo assim, longe de Chico, tudo era insosso.
Era aniversário de Francisco, meu filho unigênito, meu autista.
Não obstante ser eu detentora de direitos asseguradores de jornada reduzida e
teletrabalho, a chefia obrigou-me a cumprir o expediente completo de forma
presencial.
Meu filho e eu residimos em Natal – RN, onde há uma decisão judicial
garantidora da realização do tratamento de Francisco na Capital Potiguar,
decisão esta fundamentada no direito ao vinculo terapêutico, mais uma
conquista da comunidade autista.
Naquele dia, com o sol se pondo às margens do Rio Sanhauá, atravessei os
limites geográficos da BR 101, assim como fez o Bom Samaritano em seu
trajeto entre Jericó e Jerusalém.
Cheguei em solo natalense ainda em tempo de aproveitar o “primeiro” pedaço
de bolo reservado para a Mãe de Chico. A intensidade da emoção do meu filho
foi igualmente proporcional ao surto psicótico sofrido por ele. O episódio de
autolesão culminou em um sangramento nasal.
Vi a carne da minha carne açoitada pela distância sangrante e coroada com os
espinhos da fragilidade seminua perante as incertezas da ausência. Parecia
ouvir o martelo e os insultos: “Se és o filho de Deus, salva-se a ti mesmo e
desce dessa cruz.”
Igualmente a Maria de Nazaré, senti uma espada de dor traspassando a minha
alma. Todavia, a profecia de Simeão não fora cumprida em sua integralidade.
Natal, 02 de Fevereiro de 2023.
O telefone toca, meu corpo treme e, de forma reincidente, o segundo punhal
talhado na perversidade de uma Mulher sem pauta de solidariedade e
especialista em perfurar minha alma, golpeou-me. Sem tempo ou direito à
defesa, fizeram-me sangrar desumanamente um dia após o reingresso do ano
letivo de Francisco.
Avisou-me, a mulher deficitária de compaixão, com desdém, que, em nome do
Senhor Ouvidor recém-empossado, eu havia perdido a minha utilidade no
setor. O Des. José Aurélio da Cruz, o meu Cirineu, está aposentado.
– Serva inútil – assim pensei. Assim, igualmente vós, depois de haverdes
realizado tudo quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, pois tão
somente cumprimos o nosso dever.
O motivo alegado pela senhora, torpe e viciado: o pleno exercício dos meus
direitos à jornada reduzida e ao teletrabalho, era desinteressante ao setor.
Tragicamente, a alegação de inutilidade de uma servidora do JUDICIÁRIO
seria a prática de DIREITOS naturais, positivados e HUMANOS? Direitos estes
conquistados pela luta incansável de mães de autistas que me antecederam. O
caminhar de Berenice Piana de nada valeu? Fátima D. Kwant lutou em vão? O
discurso amoroso e esclarecedor de Marcos Mion não passa de palavras ao
vento?
As interrogações ficarão no ar aguardando que a Corte de Justiça Paraibana
não lave as mãos e não repita omissão de Pilatos diante da crucificação de
Jesus em plena Quaresma do ano de 2023 d.c.
Teresa Oliveira, 05 de Fevereiro de 2023.
Casos como esse já houveram importantes discussões em direito a teletrabalho para a mãe. O caso recente em São Paulo uma uma empregada dos Correios o direito de permanecer em teletrabalho para cuidar de dois filhos com transtorno do espectro autista, de sete e oito anos. A sentença confirma decisão que havia sido tomada em tutela de urgência, fundamentada em dispositivos da Constituição Federal e Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, da qual o Brasil é signatário.
Outras história no Brasil relatam a importância de que as crianças precisam de terapias multidisciplinares e da atenção de um adulto, com isso, a mãe tem essa responsabilidade pois é a gestora. Afirmamos que, Mãe de autista é apaixonante! Sabe se doar e ser amiga como ninguém!